Racionais Mcs - Diário De Um Detento lyrics
Aqui estou, mais um dia
Sob olhar sanguin?rio do vigia
Voc? n?o sabe como ? caminhar com a cabe?a na mira de uma HK
Metralhadora alem? ou de Israel
Estra?alha ladr?o que nem papel
Na muralha em p?
Mais um cidad?o Jos?
Servindo o Estado, um PM bom
Passa fome, metido a Charles Bronson
Ele sabe o que eu desejo, sabe o que eu penso
O dia t? chuvoso, o clima t? tenso
V?rios tentaram fugir, eu tamb?m quero
Mas de um a cem, a minha chance ? zero
Ser? que Deus ouviu minha ora??o ?
Ser? que o juiz aceitou minha apela??o ?
Manda um recado l? pro meu irm?o :
Se tiver usando droga t? ruim na minha m?o
Ele ainda t? com aquela mina ?
Pode cr?, o moleque ? gente fina
Tirei um dia a menos ou um dia a mais
Sei l?, tanto faz, os dias s?o iguais
Acendo um cigarro vejo o dia passar
Mato o tempo pra ele n?o me matar
Homem ? homem, mulher ? mulher, estrupador ? diferente, n? ?
Toma soco toda hora, ajoelha e beija os p?s
E sangra at? morrer na rua 10
Cada detento uma m?e, uma cren?a
Cada crime uma senten?a
Cada senten?a um motivo, uma hist?ria de l?grima, sangue, vidas e
gl?rias
Abandono, mis?ria, ?dio, sofrimento, desprezo, desilus?o, a??o do
tempo
Misture bem essa qu?mica, pronto: fiz um novo detento
Lamentos no corredor, na cela, no p?tio, ao redor do campo, em todos
os cantos
Mas eu conhe?o o sistema, meu irm?o, aqui n?o tem santo
Ratatat?, preciso evitar que um safado fa?a minha m?e chorar
Minha palavra de hora me protege
Pra viver no pa?s das cal?as bege
Tic-tac, ainda ? nove e quarenta
O rel?gio na cadeia anda em c?mera lenta
Ratatat?, mais um metr? vai passar
Com gente de bem, apressada, cat?lica
Lendo jornal, satisfeita, hip?crita
Com raiva por dentro, a caminho do centro
Olhando pra c?, curiosos ? l?gico
N?o, n?o ? n?o. N?o ? o zool?gico
Minha vida n?o tanto valor
Quanto seu celular, seu computador
Hoje, t? dif?cil, n?o sai o sol
N?o tem visita, n?o tem futebol
Alguns companheiros tem a mente mais fraca
N?o suporta o t?dio , arruma quiaca
Gra?a a Deus e ? Virgem Maria
Faltam s? um ano, tr?s meses e uns dias
Tem uma cela l? em cima fechada desde Ter?a-feira
Ningu?m abra pra nada
S? o cheiro de morte pinho sol
Um preso se enforcou com o len?ol
Qual que foi ? Quem sabe ? N?o conta
Ia tirar mais uns seis de ponta a ponta
Nada deixe um homem mais doente
Do que o abandono dos parentes
A? moleque, me diz ent?o ? C? que o qu? ?
A vaga t? l? esperando voc?
Pega todos os seus artigos importados
Seu Currriculum no crime e limpa o rabo
A vida bandida ? sem futuro
A sua cara fica branca desse lado do muro
J? ouviu falar de L?cifer que veio do inferno com moral um dia ?
No Carandiru n?o, ele ? s? mais um comendo rango azedo com pneumonia
Aqui tem mano de Osasoco, do Jardim D'Abril
Parelheiros, Moji, Jardim Brasil
Bela Vista, Jardim ?ngela, Heli?polis
Itapevi, Parais?polis
Ladr?o sangue bom, tem moral na quebrada
Mas pro Estado, ? s? mais um n?mero, mais nada
Nove Pavilh?es, sete mil homens que custam trezentos reais por m?s
cada
Na ?ltima visita, neguinho veio a?
Trouxe umas frutas, Marlboro, Free
Ligou que um pilantra l? da ?rea voltou
Com Kadett vermelho, placa de Salvador
Pagando de gat?o, ele xinga, ele abusa
Com uma 9 mil?metros debaixo da blusa
A?, neguinho vem c?, e os manos onde ? que t? ?
Lembra desse cururu que tentou me matar ?
"Aquele puto ? ganso, pilantra corno manso
Ficava muito louco e deixava a mina s?
A mina era virgem, ainda era menor
Agora faz chupeta em troca de p?"
Esses papo me incomoda
Se eu t? na rua ? foda ...
"?, o muda roda, ele pode vir pra c? ... "
N?o, j?, j?, meu processo t? a?
Eu quero mudar, eu quero sair
Se eu trombo esse fulano ... n?o tem p?, n?o tem pum, vou ter que
assinar o 121
Amanheceu com sol, dois de outubro
Tudo funcionando, limpeza jumbo
De madrugada eu senti um calafrio
N?o era do vento, n?o era do frio
Acerto de conta tem quase todo dia
Ia Ter outro logo mais, eu sabia
Lealdade ? o que todo preso tenta
Conseguir, a paz, de forma violenta
Se um salafr?rio sacanear algu?m
Leva ponto na cara igual Frankstein
Fuma?a na janela, tem fogo na cela
Fudeu, foi al?m, ... se p?, tem ref?m
Na maioria, se deixou envolver
Por uns cinco ou seis que n?o tem nada a perder
Dois ladr?es considerados come?aram a discutir
Mas n?o imaginavam o que estaria por vir
Traficantes, homicidas, estelionat?rios
Uma maioria de moleque prim?rio
Era a brecha que o sistema queria
Avise o IML, chegou o grande dia
Dependo do sim ou n?o de um s? homem
Que prefere ser neutro pelo telefone
Ratatat? caviar e champanhe
Fleury foi almo?ar que se foda minha m?e
Cachorros assassinos, g?s lacrimog?neo ...
Quem mata mais ladr?o ganha medalha de pr?mio
O ser humano ? descart?vel no Brasil
Com m?des usado ou Bombril
Cadeia ? Claro que o sistema n?o quis
Esconde o que a novela n?o diz
Ratatat?, sangue jorra como ?gua
Do ouvido, da boca e nariz
O Senhor ? meu pastor ... perdoe o que seu filho fez
Morreu de bru?os no Salmo 23
Sem padre, sem rep?rter, sem arma, sem socorro
Vai pegar HIV na boca do cachorro
Cad?veres no po?o, no p?tio interno
Adolph Hitler sorri no inferno
O Robocop do governo ? frio, n?o sente pena
S? ?dio e ri como a hiena
Ratatat?, Fleury e sua gangue
V?o nadar numa piscina de sangue
Mas quem vai acreditar no meu depoimento ?
Dia tr?s de outubro, di?rio de um detento